domingo, 27 de março de 2011

Prisão.



Enquanto seu corpo trêmulo se arrasta preso na realidade, sua mente, lúcida, grita pela libertação. Ela reconhece a prisão, os horários a serem cumpridos, as normas, os limites, o que se pode ou não...Isso não existe. Existe a determinação e a aceitação. A necessidade força a aceitar, posto que a maioria aceita.


A mente deve enlouquecer em qualquer momento breve, é provável que não suporte a contradição. As coisas aos poucos deixam de fazer sentido, os sonhos deixam de existir, pois o ilusório foi convertido em fatalidade.


É tão claramente perceptível agora, que todas as capacidades humanas são desprezadas e como um objeto, o ser serve para pouca coisa, com função determinada.


As informações obtidas, os livros lidos, já não bastam. As coisas estão acontecendo e a teoria não lhes causou modificações. As palavras espalhadas pelas páginas já não contem significação; enquanto os olhos procuram verdade, sentido, uma mensagem, os órgãos do tórax, o estômago, as entranhas estabelecem movimentos repetidos e angustiantes. O corpo ofegante, irriquieto, palpitante quase se rasga ao meio como se pudesse libertar as vontades da alma para fora da abstração; cuspir moral, ética, respeito, igualdade, aceitação, completude, virtude, num jato único de transformação.


A constatação das coisas é grave, é lamacenta. Por isso os contos de fada. É tão simples esconder-se nos cantos fugidios da mente pois, uma vez do lado de fora, alma e corpo parecem se repelir, tornam-se incompatíveis. A alma já não deseja  habitar a realidade corpórea sombria, almeja dela desfazer-se.


Não é poético observar o miserável e, não é belo compreender que é usurpada do ser a liberdade com que deveria nascer, sua alma a pressupôs mas o sistema exterior, as instituições malditamente criadas já lhe traçavam os passos.


Aquela louca alma que grita por verdade, que chama por libertação...pobre alma, está relegada à solidão, angustiante solidão.


Samara Belchior 18/03/2010.