sábado, 28 de março de 2015

Beijo anônimo.

Marcos Classen


Uma boca,
outra.
Nada ainda.
Os olhos se fitam,
pupila dilata
e os vasos,
sanguíneos.
Uma boca,
outra.
Tocam-se devagar.
Lábios só.
Vasculham-se as pontas
das línguas.
Tocam-se os narizes.
Colam-se os lábios,
e tórax.
Movem-se descobrindo-se,
as línguas.
Tocam céus.
Emergem os cheiros
que, deliciosos, se multiplicam.
Uma boca,
outra.
Misturam-se sem distinção.
Ameaçam os olhos abrir-se,
colam-se as palpebras em torpor.
Profundos suspiros.
Desgrudam-se os lábios,
morosos, dengosos,
deslizam pelos cantos das bocas.
“Quem é você?
Não me diga seu sobrenome.
Antes, ouça-me dizer em sussurro:
'Gostoso isso!'”

Samara Belchior


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sem título

Johnson


Ideias que iam e voltavam se mostravam a mim, 
estava deitada no meu colchão.
Me permitia pensar que podia ter um dia comum, 
mas não me permitia. Não sabia se conseguiria, se poderia.
Pensava em fazer coisas comuns, enquanto deitada no meu colchão.
E quanto mais nelas eu pensava, mais eu pensava em poesia,
mais eu pensava em fluxo do pensamento que fluía: na mente, 
no colchão, no ar.

Pensei em ler poesia, 
"vou ler poesia, 
mas antes, vou escrever."

E antes da poesia, pensei em tanta coisa para fazer.
Numas me frustrei,antes mesmo de me mover para fora do colchão, 
por desistência que fiz delas ao imaginar como seriam.

Me moveu apenas pensar em poesia, em ler, em fazer, em recitar.

Fora do colchão forjei estas linhas,
pobres, simples e contentadoras, 
enquanto dura meu ato de criá-las. 

Samara Belchior
(15/11/13)

domingo, 6 de outubro de 2013

Filopoesia



Eu vou fazer poesia, 
pensei.
Porque poesia é sensação, 
refleti.
Porque escrevo do que 
sinto.
Na poesia eu não minto. 
Minto?
Pensei pra escrever 
o que senti.
Então não é sensação, 
só.
Senti pra escrever
o que pensei.
Então não é razão, 
só.
É equilíbrio do meu ser.

Samara Belchior

(26/09/2013)


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Medo



Esse medo, perseguidor, 
de mim.
Minha sombra sussurra
censuras, causa rachaduras, 
separa-se de mim, por fim.

Samara Belchior (26/09/2013)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Soltas



Melancolia, 
minha só.
Se eu não a vivo, 
prescindo de quem sou.

Tempestade


Choro pela necessidade, 
não fosse assim, morreria.
Pois então me deixe chorar!
Vocifero porque eu sou fera,
que tem que escrever de si.
Deixa eu me ver no meu choro.
Larga-me aqui nos soluços.
Peço somente um espaço no céu:
para poder erguer o olhar, 
então me deixa rasgar o peito!
Que eu me vire do avesso, preciso me ver.
Eu não me sei nunca, 
nunca saberei.
Mas quando eu choro, 
me entendo, por um tempo.
Pois me deixa então, 
a sós comigo.
Na minha saudade de mim,
que eu as vezes sinto,
eu amo aquilo que só eu posso amar.
Me deixa assim, 
com meu cinza.
Depois tudo volta a colorir.
Mas eu agora preciso da chuva 
e da tempestade.
Feche a porta ao sair,
vai inundar o recinto de mim, 
para mim.

Samara Belchior
08/05/13

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Soltas

Kurasov


Eu tenho o remédio:
poesia, música e perfume.

Samara Belchior.