sábado, 28 de março de 2015

Beijo anônimo.

Marcos Classen


Uma boca,
outra.
Nada ainda.
Os olhos se fitam,
pupila dilata
e os vasos,
sanguíneos.
Uma boca,
outra.
Tocam-se devagar.
Lábios só.
Vasculham-se as pontas
das línguas.
Tocam-se os narizes.
Colam-se os lábios,
e tórax.
Movem-se descobrindo-se,
as línguas.
Tocam céus.
Emergem os cheiros
que, deliciosos, se multiplicam.
Uma boca,
outra.
Misturam-se sem distinção.
Ameaçam os olhos abrir-se,
colam-se as palpebras em torpor.
Profundos suspiros.
Desgrudam-se os lábios,
morosos, dengosos,
deslizam pelos cantos das bocas.
“Quem é você?
Não me diga seu sobrenome.
Antes, ouça-me dizer em sussurro:
'Gostoso isso!'”

Samara Belchior


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