sábado, 31 de outubro de 2009

ECO

Em todas essas coisas
Procuro-me
Vejo-me nas meninas dos olhos
Dos outros

Encontrei-me em algumas.
Montei paredes
Vi nas meninas dos olhos
Meu sorriso

Vi com as meninas dos meus olhos
Os sorrisos
Que podia causar.

Projetei pelos cantos e meios
Um grito
Ecoou minha alma povoada
Por miseráveis do tempo
Pelas massas sedentas de barrigas vazias.

Meu grito encheu as mentes
Ecoou...
Vi nas meninas dos olhos que dilataram
A humanidade escondida que de
Insípida
Salgou

Em todas essas coisas
Os tristes fins dos impérios que se foram
O império enfim vive da coisificação

Aquelas meninas viram as coisas:
Foram espadas revivendo suas imagens
E os sangues coloridos manchando a consciência

Meu grito mudou seu tom
Um sussurro de garganta engasgada:
“Uni-vos, uni-vos!”

Não há união!

Na não resposta resguarda-se a essência da esperança.
Achei-me naquelas janelas
Dos olhos

Que refletem meu descontentamento gritado
Sussurro reprimido
Minha utopia barbada de comunar.

Por Samara Belchior

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CÍCLICO

Falta aquela coisa estranha que você não sabe o que é. Pensa em pessoas, todas elas.
Falta alguma coisa que a música não consegue elucidar. Pensa em momentos, vários deles.
Falta alguma atitude que você não sabe se deve tomar. Pensa em hipóteses, e as descarta.
Todo o resto das obrigações te passa pela cabeça. Pensa em livros, diversos títulos e não sabe se vai lê-los.
Daqui a pouco você sabe que o relógio vai te atormentar de novo, ele está marcando os tempos que ficaram pra trás em mais um ciclo.
Falta algum sentimento. Você tenta contar os que tem...
Falta alguma coisa, que você não sabe se terá, porque não sabe o que é, não sabe se busca, porque não sabe onde encontrar. Pensa num carro em alta estrada e no vento da viagem pra algum lugar. Pensa em lugares, sabe que desconhece um monte, mas não tem carro pra ir até eles.
Falta alguma coisa que um momento de loucura poderia trazer, mas, a loucura não cabe aos que não dominam o capital. Pensa que precisa de grana, você não tem. Não dá pra fazer o que se quer.
Você pensa num mundo gigante, que não está sob suas mãos...
Por fim, o fim de algum começo, você ESPERA! Talvez alguma coisa aconteça, quem sabe aquela coisa que falta.
Você propõe imagens na mente, daquelas fixas que voltam sempre como lembrança de algum cheiro ou som. Já não sabe se são parte da sua própria imaginação ou se alguém um dia jogou diante de você pensamentos prontos e sonhos modelo que refletem a sociedade.
Você desejaria que os fins de filmes engraçados fossem verdade, mas sabe que a comédia foi criada para ironizar as mazelas humanas.
Cria realidades intocáveis, mas, consegue sonhar com elas ao dormir.
Você tem construído convicções durante anos, mas precisa defendê-las contra suas próprias dúvidas.
E o mundo continua dando voltas, e há voltas dentro de você.
Há voltas dentro dos outros, e você não sabe se pode ajudar.
E tudo continua girando, vagarosa e intensamente.
Você faz da particularidade um todo, generalizando as angustias e faltas. O mais complicado se simplifica para dentro de um existencialismo complexo e torturante. Tudo torna-se universalmente participante.
Imóvel, com os pés sobre o solo, você sente o planeta se contorcendo. Escuta os gritos, mas também os sorrisos momentâneos.
E você sente que falta algo, mas não sabe o quê, não pode saber, não sabe como fazer para contornar seus próprios delírios e deita-se no giro dos ciclos, ainda esperando...Esperando sempre.

Por Samara Belchior (10/10/09)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Melhores músicas


Se a vida fosse minhas melhores músicas
As minhas músicas:
O tempo pararia em suas batidas e melodia
O meu corpo viajaria sem fronteiras de espaço

Se fosse minhas melhores músicas
Eu me individualizaria
Mas, não são só minhas...

Meu sentimento é só meu.
Minha música e só meu sentimento.
Minhas melhores músicas.

Eu seria toda e completa o prazer da canção
Paralisada no centro dos acordes
Paralisada no centro de mim

Se fossem minha imaginação
As minhas melhores músicas
Minhas pulsações
As batidas, entonações...
Eu não seria mais do que emoções.

Por Samara Belchior