sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

SURREAL


Estava sentada lá
Era eu só, comigo.
Aquelas portas se abriram num convite
Lá fora havia um verde encantador
Minhas árvores, meus pássaros, minhas flores.

O vento me tocou os ombros
Eu vi
Um beija flor.

Acima um tom azul
Dentro duma pintura o céu.
Não via espelhos, me era tão intensa
O tempo inexistia, tudo era torpor
Meus sonhos, minhas cores, meus sons


A música parou de tocar
Percebi
Meu eu imaginador.

Por Samara Belchior.

Abram-se as cortinas!!!


Os homens do Barroco, tais quais Shakespeare, comparavam a vida a um teatro, como se ela se desenrolasse num palco. Cheia de oposições: o Carpe diem, mas o Memento mori, havia a expressão da mistura que compõe a Cultura Ocidental.
          No palco de hoje as cortinas se abrem para um novo ano. Embora o homem ocidental veja o tempo de modo linear como o quiseram os cristãos medievais ratificar, reconhecemos o tempo refazendo-se em ciclos menores de 12 meses. Quatro estações se passaram, e fomos nos construindo enquanto elas tocavam nossa pele.
     Talvez, enquanto alguns acreditam piamente que o novo ciclo seja propício a um novo espetáculo teatral, outros, desesperançosos, céticos ou cansados de completar ciclos, já não se importam com as palmas da platéia.
       Deveríamos todos ser filósofos, poetas, artistas (não necessariamente os do século XVII), e assim, conseguiríamos metaforizar a vida, torná-la algo além do que fizemos comum. Deveríamos desacostumar com as nuvens do céu azul, tornando-as motivo de exultação. Deveríamos suar de um nervosismo contido ao descortinar de cada novo ano, fazendo-nos os personagens mais brilhantes na superação do espetáculo anterior.
        Um dia, para cada um de nós as cortinas haverão de fechar-se definitivamente, creio abrir-se-ão noutro lugar melhor. Mas, enquanto é tempo, meu Diretor me chama para ser a melhor atriz que eu puder até que se acabe mais um espetáculo e outro se inicie, até que chegue outro verão, até que outro ciclo se complete.

Por Samara Belchior (01/01/2010)


Referências: GAARDER, Joisten. O mundo de Sofia.