sexta-feira, 27 de março de 2009

CONTEMPLAÇÃO


basta. É só olhar para o horizonte.
basta. É só fixar os olhos na imensidão.
contemplação.
E cada cheiro traz um perfume do passado.
Lembranças pensamento arrebatado.
Basta. Visões de lugares marcados.
Basta. Vestígios.
Prestígios... contemplados.
Imagem.
Sondagem.
Saudade.
Basta. É só aguardar o futuro.
Repetição.
Contentação.
Contemplação.
Ambiente desejável, a proximidade.
Trem conduzindo, centro da cidade.
Sorrisos.
Amigos.
E basta. Presença esperada que torna-se poesia.
basta. Simples encontro harmonia.
E é só. Só o simples da recordação.
contemplação.

Por Samara Belchior

COMUNHÃO

A profundidade de amar como a si mesmo parece utopia na era atual em que impera o individualismo. Muitos se escondem numa fortaleza; tomados pelo medo de ferir a preciosidade de seus mais profundos sentimentos, privam e são privados.
O tempo parece impedir a sensibilidade ao outro, medida criada pelo homem que intenta prendê-lo a si mesmo o quanto pode.
Voltados para o espelho que se torna um mundo, centrados no que se pode realizar em favor próprio... A figura do outro, tão externa, se perde em meio as imagens do eu.
Embora tanto se fale, pouco se vive. Embora tanto se teorize, perde-se a realidade concreta.
Afinal e, apesar das limitações, apesar das fortalezas, do tempo, do espelho, apesar da natureza egoísta em nós, é inegável falar da singularidade do Espírito que nos toma e nos envolve quando entregues sob o amor que o céu irradia e a cruz traduz, amor que nos faz comungar.
Quando as almas se prostram em temor e a fragilidade de nossos corpos encontra, tanto quanto podemos sentir, a infinitude de Deus, nossas mãos em conjunto se erguem, nossos lábios entoam, nossos espíritos louvam, em êxtase, em ápice nos tornamos um.
Em oposição à perfeição do Senhor da vida, a Igreja, imperfeita, experimenta simples fatia da promessa do céu quando entra a entoar canções nos santos átrios.
As diferenças e os individualismos, espantados, abandonam esta esfera de amor que move os corações dos cristãos em única pretensão de em comunhão exaltá-lo!
E agora a mente desenha imagens de irmãos que saibam renunciar a si próprios e abrir seus olhos na direção dos semelhantes, para viver a plenitude de um Deus que se traduz em amor.

Por Samara Belchior.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Da capo

A dançante música impulsiona um passeio corporal
o pertencimento a um louco mundo
real
irreal
Os encontros harmônicos sondam-me
combinações e intensidades
Compasso
A melodia intensa numa escala menor
Tons
o alcance à emoção
eu sinto toques suaves
criam-se imagens
O fim das frases tocadas
fechadas nas cadências da alma
Sons
se eles findam
meus intervalos se fazem frases próprias
tocadas na sinfônica interior
Tríades
misteriosas pelo encanto
eu me balanço na sensação
me encontro no timbre
Orquestração
diversidade das peças
me abrem janelas nas notas
eu danço na pauta
me entrego com calma nas semibreves
sorrio em stacato
me elevo sem pausas
Claves
revivem ventos no tempo
marcantes perfumes
Fá, do, sol, ré, lá, mi, si
Sustenidos
Bemóis
Duzentos sóis
Música dentro de mim

Por Samara Belchior

POETIZAR


E se não fosse a poesia que me expulsa de mim não poderia o espelho refletir minha tal límpida imagem.
Posso jogar as palavras no ar para desembaralhar meus sentimentos.
E enquanto o vento inspira a abstração da criação em palavras, há regozijo aos sensíveis de espírito.
Traduzir pulsações em emanadas frases. Arte pura de transpor à razão.
Não fossem elas, mal haveria o reflexo da alma poeta, da alma inquieta por reflexão.
Recanto filosófico. Abrem-se as portas para perplexos que observam o mundo quase da ponta.
Eis a imagem nua. Palavras que permitem decifrar. São enigmas tão simples quanto a pulsação da vida!

Quero poetizar...

Não há métricas que detenham os versos esparsos.
Bastam imagens, ângulos abstratos, impactos.

Quero poetizar...

Por Samara Belchior