terça-feira, 23 de agosto de 2011

Fluxo solitário




Que considerações importantes eu deveria fazer hoje?! Eu deveria fazer várias, se eu pudesse. Os pensamentos me vem e me fogem, as frases se formam e depois derretem na dúvida entre escrever ou não.


Ontem confessei que já não podia escrever. Não sei por onde passeia minha inspiração. Meus fluxos de consciência solitários procuram por ela.


Eu ouço a música pra tentar chamar a poetisa, eu ouço também a canção da razão e então só sinto a angústia contornando o ventre. A angústia é muda, exceto pelos urros.


Quem sou pra querer gritar por todas as injustiças?! Minha pequenez traz-me de volta à angústia e como num ciclo ininterrupto eu vasculho o redor, eu encontro as minhas causas pra chorar, eu choro e reencontro nas lágrimas a estática, a impossibilidade, a angústia. 


E o entorno de mim é dilacerante, 
nem aqui nas proximidades posso atuar...
Quem dirá
nos entornos do mundo, da miséria, da ignorância que não só empobrece os bolsos, empobrece, de amor, o espírito!


Olhos que me olham, não podem me enxergar.
Eu estou aqui em mim, onde os olhos jamais poderão ver, na minha angústia que me cerca por perto, na angústia que me cerca nas estruturas de um mundo carente de graça e rico em pobreza humana, na pobreza humana, através da pobreza humana (Um mundo lá dos altos e poucos, longe dos baixos em baixo, na ponte).


Duas palavras
ouço a angústia sussurrar:


Justiça, liberdade.


Por ora, talvez seja só...entre outras palavras que ainda não são tais, são esboços de sussuros da angústia.


Samara Belchior (Num fluxo de consciência solitário e hermético)






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